Resumo

A flora medicinal amazônica tem garantindo às populações tradicionais da região inúmeras possibilidades de tratamentos terapêuticos. Essas populações, através de séculos de estreito contato com a natureza, desenvolveram sistemas de cura que comprovam o potencial medicinal das plantas e também servem como modelos para a exploração sustentável da biodiversidade. Torna-se necessário que se façam estudos para o reconhecimento desses recursos medicinais e desses conhecimentos tradicionais, e que se tomem medidas voltadas tanto à proteção da biodiversidade, quanto ao reconhecimento autoral desses saberes, pois assim será possível colaborar para a proteção da biodiversidade amazônica, ao mesmo tempo em que se resgata e protege o saber tradicional dessas populações. Nesse sentido, utilizando metodologias da pesquisa etnobotânica e etnofarmacológica, o presente trabalho descreve as indicações terapêuticas das plantas medicinais manejadas e utilizadas na comunidade de São Jorge, município de Caapiranga/AM e também apresenta a opinião dos moradores em relação ao papel da ciência e da legislação brasileira frente a possibilidade de proteção e comprovação de seus conhecimentos sobre plantas medicinais. Foram entrevistados 30 moradores que informaram um total de 89 espécies medicinais, pertencentes a 47 famílias, utilizadas no tratamento de 61 doenças ou necessidades medicinais em um total de 195 prescrições terapêuticas. Para os entrevistados, a contribuição da ciência parece ser importante pois pode comprovar o efeito medicinal das plantas para pessoas que não acreditam. Ocorre consciência quanto à necessidade de amparo legal para uso da várzea, porém quanto à possibilidade de proteção ao conhecimento tradicional, grande parte sequer sabe que existem leis ou acordos nesse sentido, e não conhece ameaças provenientes de interesses externos.